Adoro ir na barbearia para contar umas mentiras. Sabe aquele momento em que você entra em uma barbearia e, ao sentar na cadeira, a primeira coisa que o barbeiro faz é te lançar uma pergunta? Como o senhor quer o cabelo? Aí já comecei a mentir lhe dizendo que estava chegando da Europa e que, o corte do momento era do tipo italiano. Uma jornada que, na verdade nunca aconteceu. Mas para minha surpresa, em fração de segundos, o barbeiro me disse para ficar tranquilo que ele também havia chegado da Europa onde foi fazer um curso de atualização. Foi mais astuto do que eu. Me considerava o campeão das histórias mirabolantes, fiquei chocado. Minha mente se esvaziou como uma rede de pescador sem um único peixe.
À medida que o cabelo ia caindo e as histórias se entrelaçavam, eu percebia que a verdade e a mentira eram apenas modos diferentes de contar a vida. Ouvi um novo cliente concorrente à minha esquerda. Ele, um cliente que aguarda sua vez, entrou na conversa como se estivesse se apresentando para a plateia. Com um tom dramático, contou que, durante uma viagem a São Paulo, foi parado pela polícia por estar a impressionantes 280 km/h. Depois, indignado, disparou: “uma grande injustiça do guarda, pois eu vi que o velocímetro só marcava 250 km/h!” A platéia da barbearia explodiu em risadas e aplausos. Não satisfeito com o impacto da história do velocímetro, outro cliente se adiantou, como um pescador determinado a fisgar a maior isca. Ele, com a expressão séria de quem estava prestes a revelar um segredo, disse possuir dois cães incrivelmente destemidos. Um deles, segundo ele, fez massagem cardíaca enquanto o outro realizava respiração boca a boca quando ele teve um infarto: “Se não fosse por eles, acho que não estaria aqui contando essa história!” A imagem era tão absurda e hilariante que, por um momento, todos nós acreditamos nos talentos milagrosos das criaturas caninas.
Diante de tamanha criatividade, a competição nas mentiras alcançou um novo patamar. As gargalhadas tomaram conta do ambiente, e eu percebi que havia perdido o controle do jogo. Ao final da sessão de cortes e risadas, deixei a barbearia com mais do que um novo visual — levei comigo a certeza de que a verdadeira vitória estava nas conexões que criamos por meio das nossas histórias. No mundo dos barbeiros e pescadores, o importante não é quem conta a melhor história, mas a alegria que cada uma delas traz para quem a ouve. E assim, minha terceira derrota no campeonato das mentiras foi, afinal, a melhor vitória que poderia ter. As tardes na barbearia sempre foram um clima de descontração e boas risadas, um verdadeiro campeonato de histórias onde todos eram, de certa forma, campeões.
Guto Sardinha