RIO – O esgotamento do estoque de termelétricas aptas a serem antecipadas, para cobrir o déficit de potência no sistema a curto prazo, não é o único fator a impor um senso de urgência à realização do Leilão de Reserva de Capacidade. O mercado global pode enfrentar, nos próximos anos, um cenário de escassez de maquinário.
E esse estresse nas cadeias de fornecedores pode atrasar e encarecer a construção de novos projetos termelétricos.
Um estudo publicado pela Wood Mackenzie, em maio, alertou para o que chamou de um possível “turbo lag” no setor nos próximos 15 anos – o termo é uma referência ao atraso na resposta de um motor turboalimentado quando ele é acionado.
A consultoria estima que cerca de 890 GW de nova capacidade de geração a gás será adicionada globalmente entre 2025 e 2040 – quase metade disso na China e EUA.
Uma combinação de fatores, como as restrições de fabricação de turbinas, aumento de custos na cadeia e concorrência de energias renováveis, no entanto, pode limitar esse crescimento, especialmente no curto prazo.
Mercado de turbinas até pelo menos 2030
Segundo a Wood Mackenzie, 90% da capacidade global de produção de turbinas a gás já está comprometida este ano.
“Para a cadeia de fornecimento de turbinas a gás, esses limites apontam para condições restritivas contínuas nas entregas de turbinas até 2030, com condições mais flexíveis entre 2030 e 2040”, escreveu o diretor de Pesquisa em Transição Energética da Wood Mackenzie, David Brown.
Esse cenário já tem sido mapeado por desenvolvedores de projetos no Brasil.
Em entrevista à agência eixos, o diretor-presidente da Gás Natural Açu (GNA), Emannuel Delfosse, citou que a disponibilidade de turbinas é uma preocupação no mercado – embora a companhia aposte no fato de ter como sócia a Siemens, uma das maiores fornecedoras globais de turbinas, como vantagem para competir no certame.
A situação é mais crítica para projetos que começam a operar em 2028 e 2029 – data de entrada em operação das primeiras usinas greenfields, pelas regras até então definidas para o LRCAP 2025, cancelado para uma reformulação nas regras.
“Está todo mundo disputando maquinário e o Brasil disputando com o mundo”, disse o sócio-fundador da Mercurio Partners, Alexandre Americano, à agência eixos em fevereiro.
Ele já havia alertado, na ocasião, que um dos grandes desafios para a implementação de projetos novos é o cenário de restrição na cadeia de fornecedores de equipamentos no mercado global.